Nas fotos que integram a exposição “Círio das Correntezas”, de Tamara Saré, existe a vontade de se deixar levar pelo fluxo de uma das maiores procissões fluviais noturnas do mundo, o Círio de Oriximiná, município do oeste do Pará. O primeiro contato de Tamara com a procissão noturna foi há 10 anos e, há 4, Tamara começou a fazer o registro do evento. ”É uma procissão difícil porque temos um Círio diurno e um noturno. A procissão sai no final do dia e já chega na cidade à noite, então você tem várias luzes pra trabalhar”, explica a fotógrafa.
O Círio é o ponto de partida da festividade de Santo Antônio, que dura 15 dias e enche a cidade de eventos, atrações culturais e movimentos sociais, envolvendo 117 comunidades e mais de 32 grupos de serviço.
Tradicionalmente, na véspera do evento, a procissão visita uma comunidade diferente do entorno. Agora em 2017, a vila escolhida foi a de Aimim, de onde os barcos partiram em direção ao porto da cidade. A procissão é realizada todo primeiro domingo de agosto, presenteando a quem acompanha vários espetáculos da natureza: de um deslumbrante pôr do sol até as luzes das estrelas que chegam com a noite, tudo emoldurado pelas águas do Rio Trombetas, afluente do Amazonas.
A adesão das comunidade do entorno de Oriximiná ajuda a manter viva umas das principais características da procissão: a produção de barcos artesanais. “Uma das últimas vezes, eu fui na comunidade do Aimim, onde acontecem algumas missas. O barco era uma torre de babel. Era gente de todo tipo, de toda raça, de toda cor, de todas as classes”, revela Tamara.
O sentimento pra quem vê o espetáculo é de encantamento, um encantamento lúdico e incomum. “Não vejo exatamente como um sentimento religioso, mas como uma manifestação cultural muito forte, de uma expressão muito forte, resultado da cultura híbrida, junção das populações tradicionais e da igreja católica”